Otorrinolaringologista
HPA Magazine 10
Uma das primeiras descrições adequadas e ainda hoje utilizada para os sintomas de vertigem foi a do livro Canon of Medicine, escrito no século XI na Pérsia por Avicenna, que é reconhecido como o pai da medicina moderna. Ele relata uma sensação de movimento dentro da cabeça do indivíduo, apesar de este estar quieto. Este sintoma é muitas vezes associado à náusea ou vómitos.
A vertigem é um dos sintomas mais frequentemente encontrados e contribui com 3-5% de todas as consultas realizadas na medicina geral e familiar. É comum confundir o sintoma de vertigem com tonturas e dificuldades no sistema motor, o que pode levar a um atraso no diagnóstico. Um tratamento adequado tem como base um diagnóstico correto da causa, o que muitas vezes poderá necessitar de uma colaboração multidisciplinar.
O controlo do equilíbrio depende do sistema vestibular no ouvido interno, do sistema propriocetivo e da visão, entre os quais o ouvido interno é o mais importante, contribuindo com mais de 60%.
Tradicionalmente divide-se a vertigem em central ou periférica. Esta divisão é incompleta para categorizar todos os doentes, contudo esta terminologia é ainda utilizada numa primeira abordagem clínica.
Os elementos fundamentais para um correto diagnóstico são uma história clínica completa e um exame clínico valorizando a avaliação otoneurológica. A necessidade dos exames complementares deve ser dirigida pela história e pelo exame clínico uma vez que a probabilidade de encontrar outra patologia sem correlação com os sintomas atuais é elevada. Os exames vestibulares mais importantes incluem Video Head Impulse Teste (vHIT) e Vestíbulo Nistagmografia (VNG). Estes exames são baseados através da apreciação dos movimentos voluntários e involuntários dos olhos sob estimulação do sistema vestibular ou do sistema nervoso central. O VNG inclui também testes calóricos para provocação de nistagmo com introdução de água fria ou quente no canal auditivo externo. Por seu lado, os exames imagiológicos incluem tomografia computorizada (TC) e ressonância magnética (RM) para deteção de distúrbios vasculares e neoplasia.
A vertigem de origem vestibular inclui Vertigem Paroxística Posicional Benigna (VPPB), Neuronite Vestibular, Doença de Ménière e infeções como por exemplo labirintite, cujo diagnóstico diferencial é por norma possível através de uma abordagem clínica.
A VPPB é a patologia mais frequente e contribuiu em mais de 30% do total das vertigens. É causada pela deslocação dos otólitos e é caraterizada por ataques de vertigem com duração de minutos sempre associados aos movimentos da cabeça sobretudo ao deitar-se. A Neurite Vestibular é a nomenclatura utilizada para descrever uma perda ou redução unilateral súbita na função do sistema vestibular. Nestes casos a vertigem é forte e persistente, muitas vezes acompanhada com vómitos e sensação de mal-estar geral, o que poderá ser confundido com uma vertigem de origem central. Quanto à Doença de Ménière é uma condição rara, caraterizada por crises de vertigem forte, por norma com uma duração superior a 30 minutos associada a hipoacusia (diminuição da acuidade auditiva) e tinnitus (zumbido), que é chamada a Tríada de Ménière.
Vertigem e tonturas de origem central incluem Acidente Vascular Isquémico Transitório, e Acidente Vascular Cerebral, cujo diagnóstico poderá necessitar de exames complementares. Causas comuns para tonturas incluem também hipotensão ortostática, arritmia, ataxia e medicamentos.
O tratamento de vertigem é causal e dependente da origem. Por exemplo, o tratamento com a manobra de Epley para a VPPB tem uma taxa de sucesso superior a 90%. A terapia medicamentosa (por exemplo antieméticos e anti vertiginosos) causa por norma um atraso no processo de habituação e consequentemente um atraso na reabilitação. Independentemente da patologia a fisioterapia é sempre eficaz e deve acompanhar a terapia específica.